Lugar Estranho, Conversa Esquisita
Vamos desenterrar o blog? Quem é Você Abro os olhos. Me percebo confuso e até um tanto decepcionado. - Ele está acordando - diz uma voz distante. Percebo que o rosto se vira para o meu lado. O posicionamento stereo me permite detectar o movimento da pessoa enquanto ela, aliviada pelo meu despertar, pergunta: - O que aconteceu? O tom de voz é mais de reprovação, ainda que suave, do que realmente querendo saber a história. - Quem é você? - pergunto eu. - Sou a Meniscreide. Fiquei te esperando por um dia inteiro. - Quem é você? - insisto na pergunta. - Dou assistência neste local a pessoas que chegam dessa forma. Pausadamente, mas ainda insatisfeito, repito: - Quem... é... você?! Percebo pelo suspiro que ela perde a paciência. Depois, confirmo o fato quando a voz dela aumenta em intensidade. - Já te disse! Sou a... - Meniscreide que trabalha aqui. - interrompo. - Mesmo assim, isso não responde à minha pergunta. - Você quer saber com quem conversa? Isso vai te ajudar em quê em relação à pergunta que te fiz? - ela fala, nervosamente. - Vai me ajudar - respondo em um suspiro - a saber o quanto a minha resposta realmente importa pra você. - Bom - ela diz - sabe que há algo errado com você. Do contrário, não teria parado aqui neste estado. - Quem é você? - a pergunta volta a sair dos meus lábios, dessa vez em um tom mais explosivo. Meniscreide então começa a desfolhar todas as etiquetas sociais das quais se lembra: estado civil, religião, opção de gênero... - Isso - retruco eu - ainda não me respondeu quem você é de verdade. Eu não vou conversar com tua aliança ou com teu crucifixo. Muito menos com tua estatura ou com o teu cabelo! - O que mais falta falar? - diz Meniscreide, já se virando para sair. - Se você não imagina - respondo eu - como quer que eu responda algo para você? Somos completos desconhecidos e sempre o seremos. Você trabalha aqui. Quantas vezes deve chegar em casa esbravejando que ouviu mais uma história cansativa e teve de usar todo poder de persuasão para fazer mais um se sentir culpado? Onde nos encontraríamos se depois dessa conversa eu sair daqui tendo dito o que aconteceu e te desse a resposta à pergunta automatizada? Ela sai, batendo os pés violentamente ao caminhar, mais frustrada porque pode vir a perder o emprego por não ter cumprido a meta do dia do que porque não conseguiu salvar mais um ser desorientado. E se essa história acontecesse, eu pergunto a você que leu até o fim: - QUEM É VOCÊ?!?!?! Hipoteticamente, Doidus!